Cinquenta Tons de Cinza: Os Motivos Pelos Quais Não Gostei

Acabo de chegar do cinema onde fui assistir ao comentadíssimo Cinquenta Tons de Cinza e senti uma necessidade de publicar a minha opinião sobre o filme. Eu não li os livros pois assim como o filme eles geraram muita polêmica na época, e ficou aquela coisa de que ou você ama ou você odeia. Gente falando muito mal e gente absolutamente apaixonada, não sei se pelo livro ou pelo personagem; e como se tratava de uma trilogia de livros até bem grossinhos, e minha vida corrida não me permitiria “perder tempo” lendo algo que talvez não valesse a pena, não quis pagar para ver. Afinal, eu tenho uma lista de mais livros não terminados de ler que livros lidos, pois realmente não gosto de perder tempo com algo que não me prende desde o início, ou que me faz perder a empolgação no meio.

Há pouco mais de um mês, estive com o primeiro livro nas mãos, pois uma prima estava lendo, e dei umas folheadinhas e li uma parte que me pareceu a Revista Nova ensinando “Como fazer sexo oral”. E não me interessei mesmo.

Não li o livro, mas ir ver o filme foi uma coisa que eu quis fazer. Aí comecei a ler as críticas, e todo o rebuliço em torno do filme – países proibindo sua exibição, uma ONG pedindo para que ao invés das pessoas irem assistir ao filme que doassem o valor do ingresso para a sua organização que cuida de mulheres vítimas de crimes sexuais, entre outras coisas.

Falaram mal do texto, da adaptação, da atuação de Jamie Dornan como o Christian Grey. Falaram muita coisa e resolvi ir ver o filme e tirar minhas conclusões.

Christian, Eu não Estou Apaixonada por Você

Ana e Bella: mesma expressão ao serem salvas de um atropelamento por seus príncipes às avessas.

Eu estava com várias ideias sobre o filme, várias expectativas. Queria ir ao cinema e me apaixonar pelo tal Christian Grey, mas isso não aconteceu. Não me apaixonei por ele. E acho que por isso sai de lá decepcionada. Sim, para mim o filme foi decepcionante.

Fui com mais três amigas que leram e que amaram o livro e que são apaixonadas pelo Mr. Grey. Eu pensei que elas é quem não iriam gostar do filme pois como é de costume, em geral, o filme não é tão bom quanto o livro e sempre decepciona seus leitores. Pensei que eu iria gostar e as meninas não, mas foi o contrário.

Fui com a seguintes informações sobre o que li e sobre o que imaginei: o filme é sobre uma garota virgem de 21 anos de idade, que conhece um milionário sedutor, ele é sádico e ela se apaixona por ele, pois ela descobre o prazer naquilo tudo, algemas, chicotes e palmadas. Foi isso que achei que veria.

Na verdade, fui para o cinema ainda mais iludida. Fui pensando que aquela coisa toda de submissão e dominação fosse se inverter. Que a Anastasia Steele, interpretada por Dakota Johnson, mostraria que por mais que uma mulher seja submissa em uma relação sexual é ela quem domina a cena, pois deixar os homens aos seus pés, doidos de desejo é uma forma de mostrar dominação. Mas não foi bem isso que vi, teve momentos que quase chegou a tocar nesse ponto, mas ainda não ficou claro.

Cenas Quentes?

Muito se falou que o filme era um quase pornô, que tinham muitas cenas de sexo, que bundas, peitos e pelos pubianos estavam ali a todo momento. Mas como fazer aquelas cenas sem isso?

Não achei que mostrou demais, nem de menos. Sempre vi revistas Playboy (mesmo sendo mulher e sendo heterossexual) pela curiosidade e pela facilidade de ter acesso (essa é outra história que depois conto) e ver peitos e pelos pubianos femininos não me causa repulsa, ou espanto ou isso e aquilo. Para mim é natural e vê-los no filme não me causou frisson. Assim como não fiquei ouriçada em ver a bunda de Jamie Dornan; nu frontal dele não teve (nem dela).

Na sessão em que eu estava teve quem assobiou fiu fiu na primeira cena da bunda dele. E teve quem riu quando viu que os pelos de Dakota eram ao estilo Nanda Costa, pois mesmo sem nu frontal foi possível vê-los. Rir dessas coisas ou se admirar com isso soa para mim como uma criança de oito anos que está começando a descobrir seu corpo e dos coleguinhas. E querer ver mais do que mostraram é coisa de adolescente de 15 anos e ali não é cabine privê.

Ao sentar para ver o filme, antes da sessão começar, dei uma olhada ao redor para ver quem era o público ali e a maioria era de mulheres, porque mulher é sempre maioria em todos os ambientes, mas tinham homens, casais héteros; parecia uma sessão de um filme qualquer, e devido à classificação, não tinha ninguém com menos de 16 anos. Embora eu acredite que só tivessem maiores de 25 anos ali.

Então falar do filme como se fosse inédito ver bundas e peitos é bem infantil, ainda mais aqui no Brasil onde isso é mostrado até em novela. Admiração temos que ter quando o que se mostra é realmente surpreendente como foi a bunda de Paola Oliveira, que chamou atenção não pelo fato de mostrar, mas por ser realmente linda.

Saga Crepúsculo, Novamente?

Em alguns momentos assistindo ao filme, eu vi Bella Swan e Edward Cullen na telona. Achei muita semelhança entre os personagens do filme “adulto” com o filme “adolescente”, talvez porque o filme adolescente era muito adulto e este filme adulto tivesse algo de filme adolescente. E realmente esta semelhança me pareceu bem marcante e é possível que alguém também tenha percebido e até escrito algo parecido ao que vou escrever, mas não pesquisei, portanto, se não for original, desculpem, estou dizendo de algo que também não pareceu original, então tudo certo!

Na cena em que Anastasia diz a Christian “Just Ana”… é impossível não se lembrar de Isabella Swan dizendo “Just Bella”; já a cena de Christian tocando um piano numa sala imensa é muito semelhante a de Edward ao piano. Outra cena que me fez ter um dejavù, foi logo no início onde há um quase atropelamento, e Christian salva Anastasia; para mim não teve como não se recordar do heroico Edward empurrando o carro e tirando Bella da morte; até o olhar de Anastasia me fez lembrar da Bella olhando para Edward.

Assim como a cena em que Anastasia é quase beijada por seu amigo José e Christian chega à porta da boate e salva a donzela. Foi como ver Mr. Cullen indo até a cidade onde Bella estava com as amigas para comprar vestidos de formatura e salvá-la das garras de criminosos. Mas claro que a cena do Crepúsculo é bem mais emocionante, quando saem fazendo manobras arriscadas no carro. E tem “lógica” um vampiro cheio de poderes ter a localização exata dela, já Christian Grey até onde o filme mostra não parece ter esses super poderes para chegar no momento exato, no local onde ela estava e que ele não sabia.

Cinquenta Tons de Cinza não teve baile de formatura como todo filme americano tem, onde a pobre mocinha feia e rejeitada não tem com quem dançar, até que no final, depois de muita coisa, o galã convida a menina para o baile. Isso teve em Crepúsculo. Mas como estamos falando de um filme adulto, e Ana estava já se formando na faculdade e não no colégio, talvez quiseram inovar, teve formatura, mas não teve o baile, mas foi Grey quem fez o discurso.

Já a cena de Ana se divertindo no voo de ultraleve não é tão legal quando Bella se divertindo com voo nas costas de Edward pela floresta. O telefonema da mãe que mora longe e que tem um namorado que se machucou, parecia até a mesma conversa de Bella com sua mãe. Enfim… Muitas semelhanças.

Mas o que mais chamou atenção foi o fato de tanto Ana quanto Bella se arriscarem em um relacionamento em que uma menina com um pouco de juízo não se arriscaria.

Bella descobre que Edward é um vampiro e que vampiro bebe sangue humano, o que era para fazer ela ter medo dele e ela diz que mesmo sabendo disso quer ficar com ele. Ana conhece uma pessoa interessante, aos poucos vai vendo como é excêntrico e que seus gostos sobre sadismo são perigosos e mesmo assim não foge dele e vai longe nessa relação.

Isso não é legal. Na vida real as mulheres não deveriam se envolver em relacionamentos perigosos. E Christian parece tão assustador com um jeito de psicopata quanto um vampiro.

Em tempo: Achei que deveria fazer uma busca sobre essa semelhança e vi que realmente a autora E.L. James é fã de Crepúsculo e fez praticamente uma releitura erótica. Ok, entendido. Só não entendi como faz sucesso um quase plágio de uma história.

Falhas e Clichês

Sempre que vemos um filme, muitas vezes a gente começa a ver os erros de continuidade; o que para mim é quase inadmissível, pois, como é possível que nem os atores, nem a equipe inteira não percebe algo que depois parece tão gritante. Confesso que vendo o filme uma única vez não vi nenhum erro deste tipo. Mas com certeza, há críticas aí dizendo sobre eles.

O que me incomodou é o fato de Anastasia nunca estar de bolsa. Tudo bem que eu também não sou fã de bolsas e sempre que posso coloco tudo nos bolsos, documento, chaves, celular. Mas várias cenas realmente me incomodaram. Acho que era para ficar fácil de qualquer coisa ele pegar ela e agarrá-la rsrsrs.

Outras duas coisas que me incomodaram e pareceram síndrome do patinho feio, o fato do celular dela não ser um smartphone e o carro dela ser um Fusca. Acho que nos EUA, assim como no Canadá, que é onde se passa o filme, qualquer pessoa, no nível de Anastasia tem um celular mais novo que aquele e um carro melhor.

Para falar a verdade, acho que das vezes em que fui ao EUA e Canadá não vi Fuscas nas ruas. Talvez ela seja realmente colecionadora de carros clássicos como ela diz brincando em uma das cenas.Seria mais interessante mesmo que só colocar isso para frisar que a protagonista, a mocinha da história além de virgem, bobinha, tem o celular antigo, o carro antigo, seu notebook quebrado e ainda cai no chão em frente ao galã da história… ai ai… entendiante… muito clichê.

Assim como sua franjinha e suas roupas baranguinhas da primeira cena. Para mim, só faltou colocar óculos e aparelhos nos dentes dela. E seria até bom, pois Dakota tem os dentes separados, sinal que realmente precisa de aparelhos.

Conto de Fadas às Avessas

Acho interessante essa iniciativa que estamos tendo de desconstruir os contos de fadas, onde os príncipes sempre vem em cavalos brancos, salvam as princesas de um mal e vivem felizes para sempre. É muito bom que nós mulheres tenhamos isso desconstruído pois os homens das nossas vidas realmente não são príncipes. As relações amorosas não são tão fascinantes e cheias de corações e flores como o próprio Mr. Grey fala sobre o que se vê nos estilo literário Romance.

A vida real, os homens reais são bem diferentes. Mas confesso que prefiro bem mais a maneira de mostrar isso do Shrek que do Crepúsculo ou do Cinquenta Tons de Cinza.

O Final

Na pior das hipóteses pensei que Anastasia sentiria atraída pelo sadismo de Christian e se tornaria uma masoquista e teríamos cenas de sadomasoquismo vindas de Hollywood. Prazer em agredir e prazer em sentir dor. Mas não. Ela até se mostrou interessada em conhecer aquele quarto vermelho e aquele homem e seu gosto estranho. No começo gostou da brincadeira, que é a brincadeira de leve, a famosa história de que um tapinha não dói, mas quando a brincadeira ficou mais violenta, ela chorou e não quis mais se aventurar.

A cena dela apanhando e chorando foi muito dura, não me senti confortável e foi talvez o que, paradoxalmente, eu mais gostei. Gostei pois, se ela tivesse sentido prazer ali naquela cena, eu diria que não só ele é doente e precisa de tratamento, mas ela também. Aquilo ali não é prazeroso, não vejo como é possível se ter prazer daquela forma. Não tem como ser saudável. Uma pessoa sadia mentalmente não pode achar que aquilo é prazeroso. Foi triste. E eu fiquei feliz que ela não quis continuar e que foi embora. E o filme acabou ali.

Enfim, relações de risco não me atraem. Aquelas cenas de sexo não me apetecem. Não quero o Christian Grey como meu namorado. Sei que a história não termina ali naquela despedida deles e que ainda virão pelo menos mais dois filmes.

Não sou de dar segunda chance para um homem, mas vou abrir mão dessa vez e assistir ao próximo filme da trilogia e ver se Mr. Grey consegue me conquistar. Como Ana já tentou mostrar para ele, ele com certeza não é só aquilo que demonstra, que aquilo é uma doença e ele precisa de tratamento.

E minha segunda chance é somente pelo fato dele estar ouvindo Bachianas n°5 quando Ana chega à casa dele. Isso foi uma bela surpresa para mim, fui já sabendo que ouviria Beyoncé com Crazy in Love, mas ouvir música brasileira de Heitor Villa-Lobos foi melhor ainda.

E por isso, só por isso, eu digo que eu pretendo sim voltar ao cinema para assistir em breve ao Cinquenta Tons Mais Escuros.


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